sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

As Filosofia Existencialista

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C.E.P. COSTA E SILVA
FILOSOFIA / PROF. RAYMUNDO GOUVEIA
2ª série / IV UNIDADE

AS FILOSOFIAS EXISTENCIALISTAS 

(Texto adaptado do livro: "É proibido proibir - Sartre", Fernando José de Almeida, FTD, São Paulo, 1988, p. 6-15)


O nascimento do século XX é marcado por uma infinidade de conflitos regionais que culminaram com a explosão de um novo modo de fazer guerra: a 1ª Guerra Mundial, iniciada em 1914. Nunca tantos mortos (20 milhões de soldados e civis, por bombardeios, massacres, fome ou epidemias), nunca tanta sofisticação de gases asfixiantes, metralhadoras, balas explosivas, canhões e tanques.
Em 1917 estourou a Revolução Russa, prenúncio de uma nova sociedade, radicalmente diversa da capitalista, também com milhões de mortos, deportados e mutilados.
Em 1929 a quebra da Bolsa de Valores de Nova York carregou de cores sombrias esse cenário, causando desemprego em massa, fome, extorsões e contrabandos, além de pressões econômicas das nações ricas sobre os países pobres.
Mal refeito da 1ª Guerra e dos abalos da economia, o mundo se envolveu, em 1939, numa 2ª Guerra Mundial, ainda mais destruidora e cruelmente sofisticada. Os tiros dos campos de batalha terminaram em 1945, mas o conflito ainda permaneceu aberto, pulsante como uma chaga viva.
Não contentes com os 45 milhões de mortos, os interesses das nações e de seus dirigentes inauguraram a guerra fria. O clima da guerra fria se caracterizou pelo medo generalizado diante da constante ameaça de uma guerra nuclear, acusações mútuas entre americanos e soviéticos, espionagem e contra-espionagem, perseguições ideológicas e censura às artes e ao pensamento. Mas não pense você que isto foi o fim do mundo.
Em meio aos gritos de dor, debaixo dos bombardeios e contando com recursos de milhões de dólares, a ciência e a tecnologia se desenvolveram espantosamente. Dia e noite trabalhavam para (além de artefatos bélicos) produzir invenções que trouxessem benefícios para a humanidade.

Muita guerra, muita tecnologia: cadê o homem?

O que o homem não conseguiu nos 100 mil anos de sua existência sobre a Terra, alguns países da Europa e os EUA conseguiram nos primeiros 50 anos do século XX. Máquinas novas, cidades de  concreto, TV, vacinas, automóvel, avião, foguete, domínio da energia atômica, informática...
No entanto o homem científico e a sociedade tecnológica não cumpriram uma promessa esperada: a melhoria da vida humana.
E sabe por quê? Porque junto com o conhecimento exato produzido pela ciência - quase uma deusa - veio um monte de bugigangas tecnológicas, que tinham por trás um projeto de dominação política e econômica. As guerras foram uma forma de reforçar essa dominação.

Afinal se percebeu que as certezas da ciência não serviam em nada à causa de uma sociedade mais humana. Os homens da década de 50 não poderiam pensar de outro modo:

"Que sujeito é este que domina as distâncias e se comunica em segundos e tem poder de explodir várias vezes este planeta e, contudo, não se conhece?".

O mundo (salvo umas privilegiadas exceções que tentavam impor-se como regras) caminhava para o caos, para o agravamento da dominação e do extermínio.
Poucas nações, poucos grupos dominavam quase toda a riqueza, os bens culturais e o poder político do mundo. Após as duas guerras mundiais, a fé do homem em si mesmo e na sua obra era decepcionante! A guerra destruira em pouco tempo agrupamentos humanos, realizações materiais e tesouros de arte que demoraram séculos para se constituir.

Inverter a História 

Alto lá! Os jovens e os pensadores dos anos 50 precisavam achar a ponta desse emaranhado, para ajudar a mudar o curso dessa história. Ao verem a triste situação do mundo e de si mesmos, eles se perguntavam: tanta busca, tanto sonho, tanto amor, tanto trabalho, para NADA?
Onde está o bem? Qual é a linha que o separa do mal? Haverá uma saída para evitar que esta aventura de viver não termine na morte com nossas próprias unhas?
Onde está a verdade: na ciência? no ser humano?
Uma certeza: a ciência não responde a tudo. Ela não é tão autônoma corno aparentava, mas está amarrada a um projeto de sociedade. Há de se buscar na Filosofia um conjunto coerente de respostas para o dilema de viver.
A Filosofia apareceu como uma nova paixão capaz de indicar novos caminhos. A sabedoria dos jovens pensadores angustiados percebia que a vida é incerta, é ambígua. Nada é como nos ensinavam os   velhos filmes de caubói, em que o chapéu do herói metido em brigas jamais cai, seu revólver jamais descarrega e ele sempre acaba dando um beijo (cinematográfico...) em sua noiva.
Hollywood punha divisórias na tela: de um lado ficava o índio, sempre traidor e ignorante; do outro, o branco, doce conquistador (de mulheres e terras alheias), acompanhado de crianças lourinhas e música romântica. O bem e a mentira eram claramente separados. O progresso sempre estava ao lado da ciência. enquanto outras dimensões humanas eram classificadas de bruxaria, e por isso olhadas com surpresa.
Não é isso que acontece na vida real.
Dentro de cada indivíduo e na trama da sociedade, a realidade é ambígua: o bem e o mal andam de mãos dadas, misturam-se. Ora odiamos, ora amamos. (veja a música "Metamorfose ambulante", de Raul Seixas).
O mesmo bandido que rouba latifundiários tem bons sentimentos com as crianças, e o justiceiro louro, montado em seu cavalo idem, pode ser mesquinho com seus pais e ter medo de quarto escuro.
Quem está com a verdade? Quem está com a mentira?(O que você acha?)

O gosto pela evidência e o sentido da ambigüidade  

A realidade humana é cheia de contradições: a própria vida está cheinha de morte, e seus poros transpiram dores:

"A hora do encontro é também despedida
chegar e partir são dois lados da mesma viagem
o trem que chega é o mesmo trem da partida
a plataforma desta estação é a vida. "(Milton Nascimento)

Apenas um bisturi mental é capaz de separar a verdade da falsidade ou o belo do feio. Essa cirurgia é feita utilizando-se o pensamento. Cada um de nós pode entender com clareza o que é bem e o que é mal. Só que isso não basta.
Viver é diferente de entender!
Na primeira metade do nosso século, os filósofos ainda estavam preocupados em separar o certo do errado, em classificar quem era sujeito e quem era objeto: "Há diferença entre o eu que pensa e as coisas exteriores ao pensamento?". Esses pensadores foram atraídos pela clareza e buscaram iluminar a existência humana.
Mas logo a existência se manifestou escorregadia: ela escapa de cada rede que a razão lança sobre ela para capturá-la e estudá-la.
 Enterrado nos escombros de um mundo que desabou, para o angustiado homem do pós-guerra desvendar a vida humana transformou-se num questão de sobrevivência.
É por isso que os existencialistas, filósofos por excelência dos anos 50, se definiram como aqueles que têm "o gosto pela evidência e o senso da ambigüidade". Daqui para frente vamos falar de um homem assim: angustiado. Nele você certamente encontrará muito do conhecimento de cada um de nós, do nosso tempo e do nosso mundo.

A filosofia existencialista do século XX é influenciada por precursores como Kierkegaard, Nietzsche, Husserl, que também tiveram uma preocupação pela existência, pelo vivido.

Não há propriamente o existencialismo, como se fosse uma escola filosófica definida. É mais correto falar-se em "clima existencialista" já que cada pensador dessa corrente tem uma abordagem original.

 Mas há um núcleo de preocupações e temas fundamentais, comuns à maioria dos existencialistas:

·        a razão humana é impotente para resolver todos os problemas da existência;
·        o homem está sempre se fazendo e refazendo;
·        o ser humano é frágil;
·        a realidade nos aliena, nos toma estranhos a nós mesmos;
·        a morte é uma presença constante na vida;
·        não se pode fugir da solidão;
·        a existência é um mistério;
·        o Nada provoca o ser humano a avançar.

Antes de serem uma filosofia do mundo, ou das coisas, as idéias existencialistas pretendem ser uma filosofia do homem. Não são reflexão de um homem perfeitamente organizado, ideal, passível de ser analisado e compreendido. Trata-se de uma filosofia de um homem misterioso, surpreendente, dilacerado por contradições insolúveis.

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