COLÉGIO ESTADUAL PRESIDENTE COSTA E SILVA
DISCIPLINA – FILOSOFIA
PROF. RAYMUNDO GOUVEIA
A Reflexão Filosófica
O que é a Filosofia?
O que é a Filosofia?
Ao ouvirmos a palavra “filosofia” imaginamos, muitas vezes, estar diante de um conjunto de teorias sem sentido, sem relação com o cotidiano. Alguns dirão: “A filosofia é coisa de louco” ou “é coisa de gente que não tem mais nada o que fazer”.
Estaria mesmo a filosofia distante do cotidiano? Seriam os filósofos seres lunáticos preocupados com coisas absurdas? O que teríamos a ver com a filosofia?
Estaria mesmo a filosofia distante do cotidiano? Seriam os filósofos seres lunáticos preocupados com coisas absurdas? O que teríamos a ver com a filosofia?
A Filosofia começa quando nos propomos a investigar o mundo, o homem e seus valores. Assim, afirma Marilena Chauí, a primeira resposta à pergunta “O que é Filosofia?”, poderia ser, como já vimos:
A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, os valores de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-las sem antes haver investigado.
Essa é uma pergunta bastante comum quando a Filosofia aparece na escola. Mas não vemos ninguém perguntar para que Matemática, Biologia ou Educação Física! A não ser quando não atingimos o conceito desejado nestas disciplinas. Mas todo mundo acha natural perguntar para que Filosofia!
Talvez porque achamos o Filósofo um ser estranho, com a cabeça no mundo da lua, dizendo coisas que ninguém entende. “Papo cabeça” demais que não serve para nada. “Não servir para nada” é uma afirmação que merece ser analisada. O que serve em nossa sociedade é aquilo que tem uma utilidade imediata, visível e muito prática. Quando nos pedem para ler ou pesquisar, logo perguntamos: o que vamos ganhar com isso? Por isso ninguém duvida da utilidade das Ciências, pois aí estão os computadores, os medicamentos, etc.
O que nós não sabemos é que as Ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, baseados em procedimentos racionais e rigorosos. Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer os fatos, relação entre teoria e prática: tudo isso não é Ciência, são questões filosóficas.
O trabalho das Ciências pressupõe, como condição, o trabalho com a Filosofia. Não é à toa que os grandes cientistas se debruçaram sobre as questões filosóficas. Por exemplo, se você já ouviu falar em produto cartesiano, conhece também a relação da Matemática
Moderna com a Filosofia de Descartes? Se já ouviu falar em Teorema de Pitágoras, sabe que para o Filósofo grego o mundo é expressão dos números e que o triângulo representaria a harmonia de todas as coisas?
Você estaria se perguntando: Que coisa doida é essa? Isso significa que a culpa de eu ter que estudar o Teorema de Pitágoras é da tal Filosofia? Calma aí... Você não é tão normal quanto parece...
Que tal viajar na aula de Filosofia e se imaginar diante de uma bela cachoeira ou ainda estar sentado em seu sofá assistindo um desses programas de ecologia. De repente, você se pergunta: como pode tudo estar tão encaixado em seu devido lugar? Como tudo começou? O que mantém as coisas em ordem e ao mesmo tempo em mudança?
Essa era a pergunta que Pitágoras e outros filósofos fizeram e obtiveram diferentes respostas. Algumas inusitadas, como a de Demócrito que supunha uma partícula indivisível como princípio de todas as coisas. A afirmação de Demócrito provocou a curiosidade de muitas pessoas e estimulou pesquisas. Embora saibamos, hoje, que o átomo é divisível, o que seria da energia atômica sem Demócrito?
Algumas pessoas afirmam que a Filosofia é a Ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual. Bobagem! A Filosofia não é Ciência, pelo menos não como entendemos a Ciência hoje. Mas, por exemplo, a Química, essa coisa fabulosa que permitiu produzir sandálias de plástico e outras coisas mais, surge da tentativa dos Filósofos Renascentistas de relacionar as partes ao todo, utilizando-se da Astrologia e da Alquimia. E a Física, responsável pelos motores potentes e pela aerodinâmica dos carros, surge da busca de uma explicação para a phisis - palavra grega que compreende a natureza em movimento e permanência.
As Ciências estão, de alguma forma, relacionadas à Filosofia porque o objeto da Filosofia é a própria reflexão, o retorno do pensamento a si mesmo para indagar o que são as coisas. O que é a Ciência, a Arte, o mundo, o homem, enfim, o que somos nós, como pensamos? Mas... para quê isso?
Observemos o que diz o Filósofo e Educador Matthew Lipman:
Para mim, a coisa mais interessante do mundo é o pensamento. Eu sei que uma porção de coisas
também são muito importantes e maravilhosas, como a eletricidade, o magnetismo e a força da gravidade. Mas, embora a gente compreenda essas coisas, elas não podem nos compreender. Portanto, o pensamento deve ser uma coisa muito especial. Se pensamos sobre a eletricidade, podemos compreendê-la melhor, mas quando pensamos sobre o pensar, parece que compreendemos melhor a nós mesmos.
Ora, você pode agora estar em um dilema pensando se quer ficar na festa com o cara ou a garota mais bonita da escola ou com aquela que nem é tão bonita, mas é uma ótima companhia. Você terá que voltar o pensamento para si mesmo, perguntando o que significa mais para você: uma boa companhia ou a beleza?
Não importa qual a sua resposta. O que importa é o processo de reflexão que o conduziu a esta pergunta. É provável que você nem chegue a uma resposta e fique na festa com quem aparecer primeiro. Existe também a possibilidade de você se lamentar por um bom tempinho pela sua atitude. O desfecho desses dilemas é variado, mas o processo de reflexão é bastante comum em várias situações.
Mas, cuidado! Não se julgue um Filósofo porque alguma vez na vida, você já fez essas perguntas. A Reflexão Filosófica não é qualquer reflexão, ela tem suas exigências.
Dermeval Saviani aponta três exigências para que possamos caracterizar uma reflexão como filosófica.
Dermeval Saviani aponta três exigências para que possamos caracterizar uma reflexão como filosófica.
A primeira é a radicalidade. Já ouvimos falar em esportes radicais ou atitudes radicais. Os esportes radicais são aqueles praticados por pessoas que gostam de superar os limites e vão além dos outros. Por exemplo, várias pessoas dirigem, algumas bem, outras nem tanto. Algumas correm com seus automóveis, mas o automobilismo busca superar os limites do piloto e do automóvel, desafiando a velocidade. O mesmo poderia ser dito sobre a radicalidade da reflexão filosófica. Voltemos ao exemplo anterior: Ao se perguntar se fica com a
garota mais bonita ou com a que é boa companhia, você estende sua reflexão buscando seus fundamentos, buscando superar os limites, buscando as raízes de sua forma de pensar e se pergunta: O que é, afinal das contas, beleza? O que é uma boa companhia? O que é bom ou mal?
A segunda exigência de uma reflexão filosófica é a sistematização. Se nos perguntarmos o que é sistema, veremos que se trata de um conjunto de dados coerentemente organizados e relacionados de tal forma, que tudo parece estar ligado a tudo. Isto pode ser mais facilmente compreendido se pensarmos, por exemplo, na computação. O mesmo se pode afirmar sobre a reflexão filosófica, é preciso que as idéias tenham relações umas com as outras, que não sejam contraditórias ou incoerentes, que se mostrem bem fundamentadas. Isso significa que “a filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, opera com idéias e conceitos obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesma. Não se trata de dizer “eu acho que”, mas de poder afirmar “eu penso que”.
E a terceira exigência da reflexão filosófica é a abrangência. A reflexão filosófica, como dizia Hegel, é como a coruja de Minerva que alça seu vôo ao entardecer. Alçar vôo significa ver de uma forma mais ampla. Olhar aquilo que não foi olhado no todo, mas só nas partes. A Filosofia alça vôo ao entardecer, pois sendo um procedimento de investigação sistemático e crítico, só pode analisar os fatos quando estes já aconteceram.
Isso significa que o trabalho do Filósofo é sempre atrasado? Não! Essa é a concepção de um Filósofo sobre a Filosofia. A busca da radicalidade, da sistematicidade e da abrangência nos coloca diante de uma multiplicidade de teorias e visões. Teorias que não são apenas opiniões que aparecem em programas de auditório no estilo “você decide”, mas que podem nos auxiliar a pensar na forma de como pensamos.
Isso significa que o trabalho do Filósofo é sempre atrasado? Não! Essa é a concepção de um Filósofo sobre a Filosofia. A busca da radicalidade, da sistematicidade e da abrangência nos coloca diante de uma multiplicidade de teorias e visões. Teorias que não são apenas opiniões que aparecem em programas de auditório no estilo “você decide”, mas que podem nos auxiliar a pensar na forma de como pensamos.
Nos pergunta, finalmente, Marilena Chauí: A Filosofia é útil ou inútil? Sua resposta é bom início para uma reflexão filosófica:
O primeiro passo para respondermos esta pergunta seria considerarmos o que é útil ou inútil. Se útil for obter fama ou dinheiro, a Filosofia reivindica o direito de ser inútil, mas se útil for descobrir o sentido de nossa existência, de nossos valores, de nossa cultura não há e nem pode haver saber mais útil que a Filosofia.
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