C.E.P.COSTA E SILVA
DISCIPLINA – FILOSOFIA
PROF. RAYMUNDO GOUVEIA
IV UNIDADE – 2011
ESTÉTICA – texto introdutório – (adaptado)
Profª Nivaldete Ferreira
Este texto tem a intenção de familiarizar você com os estudos estéticos de uma forma simples, didática e até descontraída, pois a experiência me mostrou que não são poucos os alunos/as que acham essa área de conhecimento pouco ou nada simpática, ‘sem ligação com a existência’, ‘sem sentido prático’ ou, se não exagero, assemelhada a uma linguagem esotérica.
Penso que isso se deve, em parte, à expectativa que muitos têm quando buscam os cursos relacionados a esta área de conhecimento (Artes, Design, Moda, etc.): esperam desenvolver atividades artísticas logo no primeiro dia de aula. Mas, o estudo da Estética exige um somatório de conhecimentos que não podem excluir os conteúdos teóricos, históricos, metodológicos, filosóficos e outros. O sentido prático de tudo está claro: você será melhor professor(a) ou mesmo melhor artista - se depois, ou simultaneamente, assim quiser fazer também- e até melhor cidadão/ã se conhecer a história da arte, das idéias estéticas, do ensino de arte, se estudar a cultura em geral e a formação/construção cultural do seu país. Então deixe de lado as resistências, mantenha a sua mente disponível e aberta, assuma a sua condição de estudioso/a, evite se resguardar em opiniões pré-concebidas. Sobretudo não se intimide se esse conhecimento é inteiramente novo para você. Não é obrigação sua já trazer noções ‘acadêmicas’ sobre o assunto. Veja tudo isso como isso é: idéias. E seja um/a produtor/a de idéias também, um/a criador/a. Atreva-se, como aconselha Nietzsche. Afinal, conhecimento não deve significar colonização mental... Temos de partir de algum ponto, sim, ir a outros, mas o ponto mais importante pode ser você, seu pensamento, suas interpelações, sua disposição de construir conhecimento.
2. O uso popular da palavra ‘estética’
Vou contar uma história (verídica).
Na primeira aula de Estética, num semestre letivo que já não lembro qual, uma aluna aproximou-se de mim quando eu me arrumava para sair e comentou: -Ah, professora, pensei que a senhora ia ensinar a gente a decorar a casa...
O ar de decepção era visível. Ela esperava tudo, menos que eu falasse de conceitos acerca da arte. Não estranhei. O que acontece é isto: a palavra ‘estética’ aparece nas fachadas dos salões de cabeleireiros e massagistas. E é comum se dizer de um texto escrito ‘mal formatado’ que ele está sem estética... E há aquela história do novo-rico que encomenda um quadro que combine com o sofá... E já ouvi pedreiros dizerem ‘aquela casa não tem estética’... Agora imagine uma mulher usando uma blusa roxa estampada, uma saia vermelha de listras amarelas, um sapato branco, uma bolsa verde e... mais um lenço azul de bolinhas pretas. –Que horror!, é provável que você diga. Nada combina com nada! Tudo desarmônico! Nenhuma ‘estética’!... Ou talvez você queira fotografá-la como um ícone da pós-modernidade... Ou...
No primeiro caso, você estaria se regendo pelo princípio do equilíbrio, da harmonia, da ‘beleza’, o mesmo que gerou a apropriação da palavra ‘estética’ pelos salões onde se cuida do corpo (‘tenha um corpo harmônico, experimente nossa estética facial, malhe’, etc) ou nos cursos de decoração de ambientes. Vamos tratar essa apropriação como ‘indébita’?... Não, não há nenhum crime nisso. Trata-se apenas de um uso popular do termo, de uma adequação às necessidades de comunicação num determinado universo de trabalho, e nem todos, no Brasil, têm acesso ao conhecimento formal nesse campo (há milhões de analfabetos aqui, o que é bem pior...).
3. Estética filosófica
Mas, para o nosso interesse enquanto estudantes, professores, pesquisadores e outros interessados, é preciso esclarecer, de saída, que Estética corresponde a um campo de estudos sobre a arte. É filha, por assim dizer, da filosofia grega, para nós ocidentais, e para destacar esse campo de estudo do emprego usual/mercantil da palavra, vamos chamá-la como ‘filosófica’. Agora você percebeu a conveniência da denominação...
A estética filosófica está sempre ligada às concepções de mundo, de ser humano, aos valores de cada pensador, ao contexto histórico. Vincula-se, portanto, à história das idéias também. Platão (428/27 a.C.-347 a.C), por exemplo, identificava o belo com a justiça e a honestidade. Para ele, “as ações, enquanto tais, não são com efeito nem boas nem más” (PLATÃO, 1968, p. 52). Elas se tornam belas a partir do modo como as executamos, seja dançar, beber, comer, cantar... Defendia “que a beleza de um objeto depende da maior ou menor comunicação que ele tem com uma Beleza superior, absoluta, divina, única Beleza verdadeira, que subsiste, por si só, no mundo supra-sensível das Essências” (SUASSUNA, 1975, p. 27). Em outro momento, no livro A República (onde ele escreve sobre a cidade ideal, utópica), ele reconhece a grandeza de Homero enquanto poeta, mas recomenda que o poeta não participe da cidade, pois representa um perigo de desestabilização da comunidade, por força mesmo das poderosas imagens verbais que elabora. Por seu turno, Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) considerava, “logo depois, que a beleza do objeto depende da ordem ou harmonia que existe entre suas partes” (id. ibid.).
Fica evidente que cada um estava movido por concepções diferentes – um, idealista, espiritualista, temeroso de que a poesia trepidasse a sonhada uniformidade psíquica da sua comunidade ideal (A República representa essa comunidade); outro, bem mais objetivo, concebendo a beleza como uma propriedade do objeto, e essa propriedade se relaciona com o princípio da harmonia, da justa medida, do que está em acordo, ordenado (o que será que ele diria da mulher referida acima?)
Algumas questões:
-Você acha que a concepção aristotélica foi completamente esquecida nos dias de hoje pelos artistas e professores de arte?
-Por que será que muitas crianças dizem “não sei desenhar” e até sentem ‘vergonha’ de mostrar seus desenhos aos adultos?
Muitos foram os pensadores que, depois de Platão e Aristóteles, se dedicaram a especulações em torno da arte. O assunto é inesgotável e até hoje gera teses, artigos, livros... Isso é perturbador?... Deixa você desanimado/a? Você gostaria de ter respostas firmes e decisivas?...
Penso que (quase) todos querem encontrar essas respostas, em todas as áreas do conhecimento, mas se as investigações e as especulações pararem onde estão, o conhecimento fica estagnado. A todo momento há teorias sendo complementadas, negadas, criadas. Aristóteles deve ter se inspirado no idealismo de Platão para propor uma concepção mais realista sobre o que faz a beleza de um objeto. E ambos são estudados até hoje... Você percebe, então, que o tempo das idéias às vezes é outro. É ontem e hoje.
Alguém disse assim: “A harmonia mais perfeita é semelhante a um monte de esterco feito ao acaso”. Terá sido João Gordo?... Caetano Veloso? Arnaldo Jabor?... Bem poderia ter sido um deles, mas foi um homem que viveu entre os séculos VI e V a.C., chamado Heráclito de Éfeso (pré-socrático). Não parece uma expressão de hoje?... Então vamos ter cuidado para não superestimar nem subestimar os do passado. Valem as ideias (ou não)... E mesmo que consideremos algumas extravagantes ou absurdas, é da história das ideias que estamos tomando conhecimento. E foram as transformações dessas ideias e a emergência de outras que nos colocaram aqui, numa aula sobre Estética.
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