COLÉGIO ESTADUAL PRESIDENTE COSTA E SILVA
DISCIPLINA – FILOSOFIA
PROF. RAYMUNDO GOUVEIA
SÉRIE - 3ª / IV UNIDADE
TEXTO III – ARTE, FILOSOFIA E CULTURA (I)
Profª Marilena Chauí (texto adaptado)
A arte está presente em nosso cotidiano e, muitas vezes, na pressa da vida diária, na eterna luta do homem contra o relógio nem a percebemos. Desde as mais primitivas pinturas nas cavernas, passando pela arquitetura das estruturas construídas nas primeiras civilizações e pelos afrescos pintados nas Igrejas durante a Idade Média até as atuais obras resultantes da utilização da tecnologia, a arte é parte da nossa vida e da nossa história.
A palavra arte vem do latim ars e corresponde ao termo grego techne, técnica, significando: o que é ordenado ou toda espécie de atividade humana submetida a regras. Em sentido lato, significa habilidade, desteridade, agilidade. Em sentido estrito, instrumento, ofício ciência. Seu campo semântico se define por oposição ao acaso, ao espontâneo, e ao natural. Por isso, em seu sentido geral, arte é um conjunto de regras para dirigir uma atividade humana qualquer.
Platão não distinguia a arte das ciências nem da filosofia, uma vez que todas são atividades humanas ordenadas e regradas.
Diversas classificações a respeito da arte foram pensadas ao longo do tempo. Aqui não nos cabe estudá-las devido à escassez de tempo. Entretanto, é importante ressaltar que a divisão entre artes da utilidade e artes da beleza acarretou uma separação entre técnica (o útil) e arte (o belo), levando à imagem da arte como ação individual espontânea, vinda da sensibilidade e da fantasia do artista como gênio criador.
Enquanto o técnico é visto como aplicador de regras e receitas vindas da tradição ou da ciência, o artista é visto como dotado de inspiração, entendida como uma espécie de iluminação interior e espiritual misteriosa, que leva o gênio a criar a obra.
A relação entre a arte e a técnica leva-nos a analisar outro aspecto interessante: a relação existente entre a arte e a realidade. Particularmente no século XX, a idéia
de beleza passa a estar subordinada à idéia de verdade, ou seja, a obra de arte passa a buscar caminhos de acesso ao real e de expressão da verdade. Em outras palavras, as artes não pretendem imitar a realidade, nem pretendem ser ilusões sobre a realidade, mas exprimir por meios artísticos a própria realidade.
Na atualidade, a relação entre a tecnologia e a arte é cada vez mais profunda; as fronteiras entre ambas praticamente não existem, pelo contrário: já não se imagina, por exemplo, um filme no cinema sem a tecnologia 3D ou, de maneira mais geral, não se imagina a possibilidade de fotos, filmes, discos, vídeos, cenários e iluminação teatral sem a utilização de equipamentos técnicos de alta qualidade e precisão. Assim, a tecnologia é cada vez mais presente na produção de obras de arte.
Em nossa sociedade industrial, ainda é possível distinguir as obras de arte e os objetos técnicos produzidos a partir do design e da preocupação de serem belos. A diferença está em que a finalidade desses objetos é funcional, isto é, os materiais e as formas estão subordinados à função que devem preencher (uma cadeira deve ser confortável para sentar; um automóvel, adequado para locomoção, etc.) Da obra de arte, porém , não se espera nem se exige funcionalidade, havendo nela plena liberdade para lidar com formas e materiais.
ESTÉTICA E FILOSOFIA
Do ponto de vista da Filosofia, podemos falar em dois grandes momentos da teorização da arte. No primeiro, inaugurado por Platão e Aristóteles, a filosofia trata as artes sob a forma da poética; no segundo, a partir do século XVIII, sob a forma da estética.
Arte poética é o nome de uma obra aristotélica sobre as artes da fala e da escrita, do canto e da dança: a poesia e o teatro (tragédia e comédia). A palavra poética é a tradução para poiesis (fabricação). A arte poética estuda as obras de arte como fabricação de seres e gestos artificiais, isto é, produzidos pelos seres humanos.
Estética é a tradução da palavra grega aesthesis, que significa conhecimento sensorial, experiência, sensibilidade. Foi empregada pela primeira vez para referir-se às artes pelo alemão Alexander Baumgarten, por volta de 1750. Em seu uso inicial referia-se às obras de arte enquanto criações da sensibilidade, tendo por finalidade o belo. Pouco a pouco substituiu a noção de arte poética e passou a designar toda investigação filosófica que tenha por objeto as artes ou uma arte. Do lado do artista e da obra, busca-se a realização da beleza; do lado do espectador e receptor, busca-se a reação sob a forma do juízo de gosto, do bom gosto.
A noção de estética, quando formulada e desenvolvida nos séculos XVIII e XIX, pressupunha:
a. Que a arte é produto da sensibilidade, da imaginação e da inspiração do artista e que sua finalidade é a contemplação;
b. Que a contemplação, do lado do artista, é a busca do belo (e não do útil, do agradável ou do prazeroso) e, do lado do público, é a avaliação ou o julgamento do valor de beleza atingido pela obra;
c. Que o belo é diferente do verdadeiro
Assim, a obra de arte, em sua particularidade e singularidade única, oferece algo universal – a beleza – sem necessidade de demonstrações, provas, conceitos etc. (o que é necessário para se chegar à verdade).
Desde o início do século XX as artes passaram a ser vistas sob uma perspectiva mais ampla, considerando a expressão de emoções e desejos, a interpretação e a crítica da realidade social, a atividade criadora de procedimentos inéditos para a invenção de objetos artísticos, etc. Partindo dessa nova perspectiva, a estética ou filosofia da arte passou a apresentar três núcleos principais de investigação: a relação entre arte e Natureza, arte e humano, e finalidades-funções da arte.
Arte e Natureza
A primeira e mais antiga relação entre arte e Natureza proposta pela filosofia foi a da imitação: “a arte imita a natureza”, escreve Aristóteles. A obra de arte resulta da atividade do artista para imitar outros seres por meio de sons, sentimentos, cores, formas volumes, etc., e o valor da obra decorre da habilidade do artista para encontrar materiais e formas adequados para obter o efeito imitativo. Imitação, aqui, refere-se evidentemente à representação da realidade através da fantasia e da obediência a regras para que a obra represente algum ser, algum sentimento, emoção, fato, de maneira harmônica e proporcional.
A partir do Romantismo, (portanto, após quase 23 séculos de definição da arte como imitação), a filosofia passa a definir a obra de arte como criação. Enquanto na concepção anterior o valor era buscado na qualidade do objeto imitado, agora o valor é localizado na figura do artista como gênio criador e imaginação criadora. Agora, a ideia de inspiração torna-se explicadora da atividade artística: o artista recebe uma espécie de sopro sobrenatural que o impele a criar a obra. Esta deve exprimir sentimentos e emoções muito mais do que representar a realidade. A obra passa a ser considerada a exteriorização do gênio excepcional do artista.
Na atualidade, concebe-se a arte como expressão e construção. A obra de arte não é pura receptividade imitativa ou reprodutiva, nem pura criatividade espontânea e livre, mas expressão de um sentido novo, um processo de construção do objeto artístico, em que o artista colabora com a Natureza, luta com ela ou contra ela, separa-se dela ou volta a ela, vence a resistência dela ou dobra-se às exigências dela.
Neste sentido, o artista é um ser social que busca exprimir o seu modo de estar no mundo na companhia dos outros seres humanos, reflete sobre a sociedade, volta-se para ela, seja para criticá-la, seja para afirmá-la, seja para superá-la
Essa nova concepção corresponde ao momento da sociedade industrial, da técnica transformada em tecnologia e da ciência como construção rigorosa da realidade.
Essa terceira concepção filosófica da arte coloca o artista num embate contínuo com a Natureza e com a sociedade, deixando de vê-lo como gênio criador solitário e excepcional.
QUESTÕES PROPOSTAS:
BLOCO 1
1. Qual a origem da palavra "arte" e o que o termo significa?
2. O que vem a ser a arte em seu sentido geral?
3. Qual a diferença estabelecida no texto entre o técnico e o artista?
4. Qual a relação entre a arte e a realidade?
5. Qual o papel da técnica/tecnologia na arte, hoje?
6. Qual a diferença entre as obras de arte e os objetos técnicos produzidos na atualidade?
BLOCO 2
1. Qual o significado da palavra “estética”? Quando e por quem o termo foi utilizado pela primeira vez?
2. Quais os pressupostos da noção de estética formulada nos séculos XVIII e XIX?
3. Quais os três núcleos principais de investigação da estética ou filosofia da arte?
4. Qual a diferença entre a concepção aristotélica e a concepção romântica sobre a relação entre arte e Natureza?
5. De que modo o artista é considerado dentro do pensamento contemporâneo?
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